PSICOLOGIA E A SAÚDE DE LGBTQIA+
- Rafael Sousa
- 26 de mai. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 25 de ago. de 2021
Estudos vão apontar como a discriminação contra a população de LGBTQIA+ é um fator de vulnerabilização adicional aos fatores comuns que já produzem sofrimento/adoecimento.

O que temos é que historicamente essas existências foram consideradas como inscritas na ordem do pecado, do crime e até mesmo do patológico produzindo nas instâncias políticas, sociais, jurídicas, e no próprio setor da saúde modos de relacionamentos capazes de produzir condições de precarização, vulnerabilização, violação de direitos, violência contra as existências de LGBTQIA+.
Às últimas consequências, é possível enxergar um maior índice de depressão, ansiedade e uso abusivo de álcool e outras drogas quando LGBTQIA+ são comparados ao seus pares heterossexuais; é possível ver uma dificuldade de acesso ao trabalho principalmente quando falamos de pessoas trans; negligências no serviços de saúde; agressões verbais e físicas, chegando à torturas e espancamentos.
Outra situação ansiogênica pela qual as pessoas LGBTQIA+ precisam passar é por exemplo a tão famosa “saída do armário” que nunca é definitiva e apenas uma vez, e isso significa além de uma libertação, a possibilidade de encontrar retaliações por parte do outro. E é em face desse risco que muitos também escolhem permanecer dentro do armário, o que em parte pode evitar conflitos exteriores, mas que causa sufocamento, aprisionamento e uma realização de si deficiente.
É diante desse cenário e com o compromisso ético de não contribuir para situações de violação e violência, negligência e discriminação que a psicologia precisa refazer seu modo de escuta e produção de cuidado e isso implica:
Na compreensão das demandas de saúde dessa população que precisa também estar fundamentada no campo histórico que coloca suas existências em estado permanente de risco.
Compreender para além das categorias nosológicas que delimitam o modo do adoecimento, entendendo que a diferença não reside no sintoma em si, mas no modo de produção desse tipo de adoecimento.
Refletir e tensionar sobre liberdade, transgressão, os direitos fundamentais e direitos conquistados com a luta dos movimentos LGBTQIA+, bem como acolher e discutir sobre a culpa, a vergonha, medo entre outros afetos que podem surgir desse processo de se reconhecer e se manter existente como pessoa LGBTQIA+.
Dialogar acerca das estruturas macropolíticas da heteronormatividade, sexismo, machismo que abrem o campo de aparição das violências que fazem sofrer essa população, entre outras temáticas que cada situação pode exigir.
Dentro do setting clínico isso é possível à medida que essas temáticas forem problematizadas pela pessoa, afinal, no processo de psicoterapia empreendemos reflexões na tentativa de compreender como os processos históricos do nosso tempo determinam a pessoa que cada um é.
Não há uma psicoterapia do sujeito encapsulado, individualizado, há sim uma psicoterapia de um existente que só é porque é no mundo, logo tematizar o que ocorre “no entorno” é tão importante quanto tematizar o que ocorre no “interior”. Se isso em si não é garantia da tão querida felicidade, ao menos é possibilidade para se desvelar aquilo que ainda é desconhecido e a partir disso cada um ao seu modo pode lançar mão das estratégias que encontram para bem viver.
Rafael Sousa Silva
Psicólogo CRP 11/14627
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