O QUE PODE A ESCRITA EM PROCESSO DE PSICOTERAPIA?
- Rafael Sousa
- 25 de ago. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 7 de set. de 2021
Não raramente sugiro a escrita para meus clientes como uma ferramenta possível na elaboração de alguma temática que, na sessão, ficou carente de expressão, mobilização afetiva, raciocínio, compreensão e o que tenho tido como retorno, quase que invariavelmente, são textos muito íntimos, afetivos e profundos.

Sugerir a escrita é como prolongar o que em sessão de psicoterapia se iniciou e precisa continuar a se elaborar. Quando a sugestão é acolhida temos textos cheios de conteúdos significativos que dizem respeito não somente à temática em questão, mas que apontam para outras áreas ainda intocadas. Logo, mais do que fechar uma compreensão sobre determinada questão, a escrita vem mais para ampliar a consciência e abrir outros caminhos que precisam ser trilhados.
Já foi dito em outro texto que para se utilizar da escrita como ferramenta terapêutica não é preciso um domínio culto da língua portuguesa e das regras gramaticais. Não nos interessa muito isso. De início, o que queremos é apenas a disponibilidade para escrever e deixar fluir para o papel o que estiver acontecendo no íntimo. Nesse momento, a ideia é expressividade, sem passar por filtros preconceituosos ou valorativos. Aqui, não queremos saber se tal afeto é bom ou ruim, se é certo sentí-lo ou não, se está aí é preciso recolocá-lo, e nesse caso, registrá-lo no papel, tentar traduzi-lo em palavras escritas.
Um dia, sugeri a escrita de uma carta para que um jovem pudesse dizer ao seu falecido pai o que não teve oportunidade de falar em vida. Gramaticalmente, havia muitos erros, no entanto, a tarefa terapêutica se cumpriu e a escrita da carta lhe serviu como momento de não apenas expressar-se, mas de, ao lê-la, se deparar com seus afetos: saudade, raiva, amor. Pouco os importava se faltava uma vírgula, uma letra, uma crase ou se o nome próprio começa com letra minúscula, a mensagem estava dita, entendida e ali disponível para que o jovem pudesse acessá-la.
O que acontece é que a escrita tem mesmo esse papel de tirar a vivência do íntimo e torná-la visível. No íntimo, por mais que saibamos que ela existe, está lá e temos parcamente a noção do que se trata, quando ela passa pela elaboração da escrita ela vem ao mundo de modo mais claro, podemos vê-la, tem palavras que dão significado e sentido para o que antes era apenas uma sensação.
Obviamente que tratamos a escrita como uma possibilidade entre tantas. Em psicoterapia se utiliza, tradicionalmente, a palavra falada. Em meus processos, não deixo que a escrita seja algo distante, longínquo ou inacessível e quando utilizada percebo que a escrevente colhe bons frutos do processo.
Há um segundo momento, em psicoterapia, que envolve os textos escritos: o da leitura conjunta. Mas isso deixo para um texto posterior. O convite fica para iniciar na escrita seus processos de compreensão de si.
Rafael Silva
Psicólogo CRP 11/14627
Pós-graduando em Psicologia e Psicoterapia Online (PUCRS)
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