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O DESAFIO DE CONFIAR

  • Foto do escritor: Rafael Sousa
    Rafael Sousa
  • 25 de ago. de 2021
  • 2 min de leitura

Atualizado: 7 de set. de 2021

Se podemos pensar em uma sociedade, em uma comunidade ou em um grupo como um tecido, o jogo de palavras “Co(n)fiar” pode evidenciar algum sentido. Um tecido, se olharmos mais de perto, é composto por milhares de fios que entrelaçados do modo correto dão-lhe sustentabilidade e força. Sozinhos os fios são fracos, frágeis e desenlaçados são solitários, soltos e nada compõem senão quando co-fiados.


A tarefa, então, de pensar as comunidades humanas ou coletivos pode partir dessa imagética do tecido que, se olhada de perto, só é possível porque em cooperação, juntos, algumas singularidades se uniram para algo maior. Fico pensando, portanto, qual o elemento que une, costura, enlaça os seres para que não fiquem soltos, a esmo? A necessidade do outro? Sim. Algumas vezes. O controle das existências? É, isso pode dar alguma liga possível. E, geralmente, o que temos visto é isso. No entanto, porque não apostar na confiança?


E o que seria a confiança? A confiança talvez nos confira um acalentamento existencial que nos assegura: “Você não está só!”. Com ela é que o enlaçamento com outro se torna não somente possível pela necessidade ou obrigação, mas por encontrar no outro a cooperação e a parceria para tocar o que quer que seja para frente.


Confiar é se dá um alívio da solidão mais própria e que, se a solidão nos é condicional, o enlaçamento com outro também é. Confiar exige coragem e nos desafia a vivermos não somente por si e para si, mas abraçar essa condição, irremediável, de sermos sempre com-. Confiança é creditar ao outro um poder de sustentar algo que sozinho não seríamos capazes de sustentar. É força e energia compartilhadas.


Em tempos humanos desgarrados, na guerra do "salve-se quem puder", no "confie apenas em si mesmo" nos resta a possibilidade de enlaçamentos humanos capazes de nos tornar comunidade? O que nos aconteceu que não conseguimos mais confiar no outro? O que nos aconteceu que não conseguimos mais zelar pela confiança que outro depositou em nós? Confiar é, portanto, um dos grandes desafios que, nós ocidentais, embebidos de individualismo, temos que resolver. E não é fácil!


Ao longo dos anos, traições nos assola: na política, na economia, nas relações. Vamos perdendo a coragem de confiar porque não queremos mais sentir a grande dor de um laço rompido. Acreditamos em tal político: decepção. Acreditamos no amigo: traição. Acreditamos no amor: o amor acaba-se com um sopro. E nada dura. Nada é feito para durar. E confiança é algo que se demora para construir, não se pode “gastá-la” com qualquer coisa efêmera. A confiança é dada àquilo que pode durar, pois ela inicia outro processo de construção que também tem seu tempo e que não é acelerado: uma casa, um namoro, uma amizade, um casamento, uma relação terapêutica. E essas coisas só podem ser iniciadas com confiança e só podem ser desenvolvidas através dela.

Pergunto, então: VOCÊ TEM TIDO ZELO E TEMPO EM DESENVOLVER CONFIANÇA PARA ENLAÇAMENTOS DURADOUROS, SUSTENTÁVEIS? O que te impede de confiar e se enlaçar com o outro? E como você pode ir desconstruindo a barreira do individualismo rumo à construção de projetos mais comunitários?


Rafael Silva

Psicólogo CRP 11/14627

Pós-graduando em Psicologia e Psicoterapia Online (PUCRS)


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